Com luta organizada chega ao fim história do desaparecimento de Ana Alice em Queimadas

No Programa Domingo Rural deste domingo(11/11) o tema evidenciado foi o caso Ana Alice de Macedo Valentin que, conforme vínhamos anunciando, estava desaparecida desde o dia 19 de setembro deste ano e, graças ao esforço desempenhado, foi encontrada na última quarta-feira(07/11), às 20:00 horas, sem vida enterrada no Sítio Serrote Branco, município de Caturité.

Ana Alice tinha 16 anos e foi receptada pelo maníaco sexual Leônio Barbosa de Arruda(22 anos) que a estuprou na noite daquele 19 de setembro, matou-a com extrema crueldade e a enterrou num matagal próximo a residência do maníaco no Sítio Serrote Branco. O rapto aconteceu na comunidade Bodopitá de Queimadas (distante 22 quilômetros de Campina Grande), no Agreste paraibano.

Desde o desaparecimento de Ana Alice o Stúdio Rural passou a fazer parte no processo de operação de interpretação e investigação do caso acompanhando o grupo criado pelo Pólo Sindical da Borborema como forma de contribuir com a elucidação da causa junto ao trabalho da Polícia de Queimadas, liderada pelo delegado titular daquela cidade, Erissandro Pinto de Andrade.

Ao voltar da escola, Ana Alice foi abordada por Leônio que a levou para o sítio Serrote Branco em Caturité a 14 quilômetros de Queimadas, na região do Cariri do Estado, quando então estuprou a estudante, a assassinou com golpes de uma barra de ferro e enterrou o corpo próximo a residência do próprio assassino.

Leônio Arruda já responde por um estupro, outro por uso ilegal de arma pesada e dias depois de estuprar e matar Ana Alice, tentou estuprar e matar uma agricultora de 40 anos de idade na zona rural de Caturité. Após seções de terror e formas diversas de agressão a agricultora foi jogada por Leônio Arruda num fosso da Cagepa e ficou desacordada por cerca de 08 horas quando voltou a si e buscou socorro na casa mais próxima na comunidade, quando foi levada ao Hospital Regional de Campina Grande e após recuperação pôde identificar o responsável pelos crimes.

A tentativa de estupro e assassinato aconteceu na noite de 31 de outubro, no dia 01 de novembro a equipe Stúdio Rural teve acesso a família da agricultora e, em parceria com o Comitê de Apoio a Ana Alice, passou a acompanhar a ação de forma sigilosa junto ao delegado de Queimadas Erissandro Pinto de Andrade.

Do dia 01 de novembro ao dia 07 diversas atividades foram desenvolvidas e somente na noite da última quarta-feira(07/11) é que a Polícia prendeu o estuprador que já estava em fuga ao passar pelo município de Queimadas com destino ao Estado de Pernambuco.

O trabalho foi proporcionado graças a capacidade do delegado em dialogar com a comunidade mobilizada pelas entidades componentes do Pólo Sindical da Borborema através do Comitê de Apoio a Ana Alice, conforme explicou o próprio delegado Erissandro. style=mso-spacerun: yes>  “Ainda bem que, com o apoio da comunidade, principalmente, a gente conseguiu unir as duas coisas, os dois crimes que eram bem similares e chegamos ao autor do crime e, graças á Deus, ele foi preso e foram esclarecidos os dois crimes”, explica Erissandro Pinto de Andrade ao dialogar com os ouvintes do Programa Universo Rural e Domingo Rural e evidenciar a importância do trabalho de segurança pública participativa, afirmando que sem informação da população a polícia fica impossibilitada de chegar aos autores de crimes.

O corpo de Ana Alice foi sepultado no cemitério de Queimadas, no início da tarde da quinta-feira(08/11), sem velório já que o corpo estava em avançado estado de decomposição já que havia 49 dias que o corpo estava enterrado no matagal. “É uma tristeza, em se tratando da forma como ela foi assassinada e como tudo aconteceu, não só pela forma, mas pelo ato em si, acho que todas as pessoas precisam ter uma vida digna, independente de quem seja, e Ana Alice era uma pessoa agradável, amável, conquistava as pessoas e só podia ser desta forma porque vinha de uma família de agricultores em que a própria mãe já é um exemplo na vida dela, então as minhas lágrimas aqui hoje são de tristeza pelo acontecido, mas também de revolta porque assim como o caso de Ana Alice outras mulheres, e especialmente na Paraíba, a Paraíba está no sétimo lugar no ranking dos estados nacional que mais mata mulheres, então o caso Ana Alice é doloroso, mas ainda bem que a gente conseguiu, de certa forma, dar um enterro digno a ela”, explica a agricultora e coordenadora do Coletivo Regional da Agricultura Familiar do Auto Sertão da Paraíba, Maria Elza Gomes.

Vanúbia Martins de Oliveira é componente da Comissão Pastoral da Terra e, ao dialogar com Stúdio Rural, disse que a violência contra a mulher está ficando cada vez mais clara e que as entidades estão se fortalecendo na busca de encontrar alternativas, por entender que são fatores diversos que vêm provocando essa realidade a exemplo da desigualdade econômica e social, falta de políticas públicas dos municípios associados ao Governo do Estado e Federal a partir de políticas de promoções amplas e garante que a realidade de Queimadas vem preocupando as entidades do Pólo em razão de um conjunto de acontecimentos recentes. “É verdade, a Articulação do Semiárido tem trabalhado aqui junto com o sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, tem se mostrado um trabalho fantástico nessa relação da agroecologia, porém a agroecologia ainda não chegou no coração das pessoas porque a agroecologia pressupõe cuidados e o cuidado com todas as pessoas, as coisas e a natureza, a nossa casa comum e os nossos filhos comuns. Quando a gente a acreditar que o meu vizinho também é parte da mesma natureza, então eu vou tomar cuidado com ele e talvez a gente construa um outro nível de valores, mas Queimadas desponta e está aí a CPI da violência contra as mulheres no caso daquele estupro coletivo e acho que tem que seguir adiante com as investigações e ir mais adiante e investigar quem está envolvido, o que tem mais aqui em Queimadas porque as violências continuam, em especial contra as mulheres”.

Maria da Glória Batista é assessora da ONG PATAC e atua no processo de mobilização de convivência com o semiárido via Coletivo Regional do Cariri, Seridó e Curimataú, participou do sepultamento do corpo de Ana Alice e, ao dialogar com Stúdio Rural, disse lamentar mais um empreendimento da violência que está direcionando à mulher camponesa, prática que revela ser necessário mais luta e organização por parte das entidades diversas que discutem políticas de convivência com o semiárido. “A seca realmente não é o pior problema do semiárido, mas as desigualdades sociais, inclusive a questão da violência que cada vez mais está presente no campo, a gente vê a violência nas pessoas por terra, o latifúndio assassinando, só que hoje não é apensa a briga entre os donos do poder da terra, da riqueza brigando, mas aí as pessoas são vítimas da violência doméstica, da violência sexista, então a gente vê as mais diversas formas de violência e que isso não se verifica apenas no semiárido urbano, mas cada vez mais a gente está vendo a questão da violência no próprio campo, e aí é necessário políticas públicas voltadas para a segurança no campo, isso é muito importante. Então você vê uma adolescente que sai para a escola, que sai da zona rural pra ir pra cidade estudar e de repente ela é violentada, então a gente precisa de lutar por políticas também em defesa da segurança no campo”, explica Glória ao dialogar com os ouvintes das emissoras parceiras de Domingo Rural e Universo Rural.

Maria Anunciada Flor Barbosa Morais é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas, está fazendo parte do Comitê de Apoio a causa de Ana Alice, lamentou os fatos de violência que vêm acontecendo naquele município e garante que o sindicato vai intensificar as ações de discussão que possam envolver os setores representativos os mais diversos do município a exemplo de representações religiosas, polícia, judiciário, associações de agricultores, associações de moradores no setor urbano dentre outras forças como forma de encontrar respostas e alternativas em políticas públicas que possam apontar caminho positivo no processo de inclusão social dos setores diversos como educação e meios de geração de trabalho e renda sustentáveis. “Nós vamos continuar na luta, o movimento da sociedade civil organizada vai continuar batendo nesta mesma tecla lutando contra a violência, principalmente contra a violência contra a mulher que nós sabemos que tem também violência contra criança e idosos como está existindo sempre na zona rural com a violência no campo, mas por incrível que pareça é muito forte a violência contra a mulher”.

Já a Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH) lançou nota, via Programa Domingo Rural, se solidarizando com a família, amigas e amigos da jovem Ana Alice de Macêdo Valentin argumentando se compartilhar da dor e da indignação dos familiares com tamanha barbaridade que acomete mais uma jovem de nosso estado.

A SEMDH justificou que reitera a gravidade da situação de violência contra a mulher no estado da Paraíba e na região do agreste, notadamente no entorno da cidade de Queimadas, afirmando o compromisso do governo do estado em qualificar as ações de enfrentamento à violência contra a mulher com intuito de reduzir os índices de homicídios, assim como os outros tipos de violência. “Nessa ocasião, conclamamos o compromisso e a participação das prefeituras municipais na construção de políticas públicas de enfrentamento a violência contra a mulher em nosso estado. Estamos certas da necessidade do esforço de todos os poderes públicos para debelar a violência sofrida pelas mulheres marcada pelo machismo presente na nossa cultura”, evidencia aquela secretaria governamental.

Fonte: Stúdio Rural / Programa Domingo Rural

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