Campina Grande sedia Seminário Nacional sobre Educação Contextualizada no Semiárido Brasileiro

Educadores e representações de entidades de segmentos diversos realizaram, em Campina Grande, o Seminário Nacional sobre Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido Brasileiro, evento que aconteceu no auditório da FIEP, no período de 31 de maio a 02 de junho e contou com palestra e painéis abordando Política públicas para a educação básica; Educação contextualizada para a convivência com o semiárido brasileiro; Política nacional do livro, construção e utilização de materiais didáticos e paradidáticos para a educação básica no semiárido, e formação continuada dos profissionais da educação básica no semiárido brasileiro com ênfase nos princípios, projetos e experiências.

Domingo Rural participou do evento durante os três dias e conversou com educadores e mobilizadores sociais que buscam um novo momento para a realidade do semiárido brasileiro a exemplo do educador Manoel Roberval da AS-PTA; Antônio Cleide Gouveia, da CPT Sertão da Paraíba; professor da UFCG, Cajazeiras, José Rovilson Bueno; professora da UFCG Cajazeiras e representante da RESAB, Rede de Educação no Semiárido Brasileiro, Adelaide Pereira; Professora da UFCG Sumé, Maria do Socorro Silva; professor da UFCG e representante do INSA, Roberto Germano; pesquisador da Embrapa Algodão, José de Souza Silva e o mobilizador social da Arribaçã, Heleno Alves de Freitas.

Manoel Roberval é da AS-PTA e fala sobre o seminário e sobre o trabalho da ASA Brasil nas discussões por ações de convivência com o semiárido. “Eu acho que tratar de educação contextualizada é tratar da vida do povo do semiárido, e esse evento está trazendo uma reflexão importante para as organizações que trabalham com os movimentos sociais, movimentos populares e que trabalham com formação de formadores mostrando que existe um campo importante fértil dentro da Articulação do Semiárido Paraibano de formação de pessoas que vivem no semiárido trazendo todo um debate, toda uma experimentação de convivência com ele”, relata Roberval assegurando que a educação do semiárido vem sendo trabalhada pelas organizações da ASA a parir das experiências das famílias e tecnologias apropriadas á região. “Na verdade eu acho que a RESAB inclusive nasceu dessa expectativa das experiências de convivência com o semiárido, seja na preservação das sementes creoulas ou sementes da paixão ou sementes da resistência já que são vários nomes que chama aqui no semiárido brasileiro, com as experiências de resgate da água de chuvas em cisternas calçadão, em cisternas de placas, barragens subterrâneas, em barreiros, em tanques de pedra, seja na experiência de produção de forragens, armazenamento de forragem para alimentar grandes e pequenos animais, na diversificação produtiva dos quintais, dos diferentes sistemas produtivos, na arborização das propriedades e principalmente no resgate e valorização do conhecimento das famílias agricultoras”, comenta Roberval ao dialogar com a equipe do Programa Domingo Rural.

Antônio Cleide Gouveia é da CPT Sertão-PB, trabalha o processo de mobilização de convivência no semiárido e diz que esse trabalho já vem sendo trabalhado á quase duas décadas pelas entidades da ASA em todo o Nordeste brasileiro, onde a discussão da RESAB por uma educação do semiárido para a ser um avanço das lutas organizadas e representa uma expectativa de que todas as experiências dinâmicas e a realidade que os agricultores vêm construindo no dia a dia da nossa região semiárida ela possa estar contemplada dentro da escola, no nosso caso da CPT que trabalhamos nas áreas de assentamento, temos desenvolvido um trabalho junto também a rede de educação do semiárido brasileiro para que a educação dos alunos filhos dos agricultores camponeses assentados possa estar contemplando essa realidade, sobretudo a questão também da terra, convivência do viver na terra, da luta na terra e da reforma agrária”.

Rovilson José Bueno, educador pela UFCG Cajazeiras, é atuante na busca de uma educação democrática e contextualizada em todo o semiárido e falou com nossa equipe dizendo que um novo semiárido se faz com o povo participando na construção do modelo educativo numa visão a partir do potencial local e disse que o evento tem papel importante para desenvolver condições a construção de uma representação muito diferente do que tem se entendido de semiárido brasileiro nos últimos anos derrubando a idéia de que o semiárido brasileiro é um lugar miséria em que não se pode morar nele e garante que a região teve sempre papel importante na construção da riqueza nacional desde o início da colonização até os dias de hoje e garante que pouco a pouco vamos desconstruir essa idéia negativa de semiárido indigente.

A professora da UFCG Cajazeiras-PB, Adelaide Pereira, é tida como uma das grandes lutadoras por uma educação contextualizada no semiárido brasileiro, participa de forma ativa em todas as lutas junto as organizações da RESAB, e diz que o seminário representa um grande passo para juntar as idéias e entidades para a construção de uma nova e eficiente educação em todo o semiárido. “Pra mim esse seminário é uma oportunidade de ampliar de fato essa discussão pra mais entidades, mais instituições e também uma oportunidade de a gente ver o que é que já vem sendo feito em educação para a convivência com o semiárido acredito que o Instituto Nacional do Semiárido no momento em que também coloca na sua pauta a discussão da educação contextualizada para a convivência com o semiárido brasileiro isso significa que nós a partir de agora poderemos ter ampliadas ações a nível estatal, afinal de contas a nossa luta é por educação pública para a convivência com o semiárido e aí a gente tem uma instituição de pesquisas represente das universidades e o que é mais importante é que o Instituto do Semiárido está buscando apoios junto ao CNPq, junto a órgãos de fomento para apoiar as iniciativas, acho que isso é muito importante”.

Heleno Alves de Freitas, é mobilizador social da ONG Arribaçã, participou do evento e diz que o Nordeste vem em crescimento na dinâmica de democratizar a educação a partir da realidade local feita pela comunidade local, fato que elevará a qualidade da visão crítica das pessoas que promoverão ações para um novo Nordeste a partir das práticas pessoais e coletivas além de melhorar a qualidade na escolha das representações políticas dentre outras e citou como exemplo o papel que as entidades paraibanas vêm dando para a construção desse novo momento. “Eu acho que é um grande avanço para todos nós que somos do semiárido nordestino e que somos nordestinos em ter uma instituição pública que é o INSA preocupado em discutir essa temática que só era transversal dentro das ONGs e movimentos sociais, nós sabemos da importância que tem o INSA para o Nordeste e seus parceiros que estão construindo esse seminário é de uma grandeza formidável. E mais importante que eu vejo como um todo são os temas e os debatedores que são pessoas algumas vindo dos movimentos sociais e outros do governo, mas com responsabilidade e com compromisso de alavancar o tema e aprofundar para que possamos nas secretarias municipais e estaduais e no ministério do país criar uma rede na questão da contextualização do ensino buscando os parâmetros do conhecimento local vivenciado por todos nós e aceitando de bom grado o avanço tecnológico que não podemos dispensar, mas não como uma coisa impositiva e sim uma coisa dialogada e debatida entre todos”.

A professora Maria do Socorro Silva, é da UFCG Sumé, participou na organização do evento e também nas discussões e palestras e fala sobre os avanços desenvolvidos por dentro do Semiárido Brasileiro na educação contextualizada, resultado de práticas sociais e educacionais desenvolvidas em toda a região com discussões aprofundas e buscas de parcerias para uma nova construção e garante que as ações serão trabalhadas cada vez mais integradas. “Eu acredito que esse itinerário que a gente começou a trazer, trouxe muito aprendizado pra todos nós para os agricultores, para os educadores, para os gestores que têm comprometimento com essa questão e acho que a gente foi acumulando uma série de aprendizados que hoje já nos possibilita olhar, pensar e sentir o diferente e cada vez mais a gente perceber que uma ação dessas não pode ser isolada. Então a cisterna não pode ser pensada isolada de uma escola conterxtualizada, a escola não pode ser pensada isolada da organização dos trabalhadores e trabalhadoras, a organização dos trabalhadores e trabalhadoras não pode ser pensada isolada da organização da produção, da sustentabilidade econômica, a sustentabilidade econômica não pode ser pensada isolada da sustentabilidade ambiental, cultural, social do nosso semiárido, eu acho que a gente tem aprendido com esse itinerário que a gente vem construindo de que cada vez mais nós precisamos ter ações mais articuladas, mais sistêmicas e menos coisas fragmentadas e isoladas”, explica a educadora.

Um dos palestrantes no evento, pesquisador da Embrapa, José de Souza Silva, participou do evento proferindo palestra com a temática: Educação Contextualizada para a convivência com o semiárido brasileiro.  Ao conversar com Domingo Rural ele falou sobre a participação dele no evento dizendo que falou sobre a preocupação das entidades que têm percebido, no semiárido, uma educação oficial que reproduz uma idéia de semiárido que não é relevante para os 21 milhões de habitantes do semiárido porque é uma educação imitativa que não valoriza os talentos, valores e saberes locais, levando a população a imaginar realidades distantes da realidade local. “Então minha participação, por isso ela foi prevista para acontecer logo no início, eu fiz uma pergunta: se a educação contextualizada que nós necessitamos é muito relevante, porque foi que historicamente ela não prevaleceu? O que foi a educação descontextualizada, então minha contribuição foi chamar a atenção para os efeitos da colonização cultural que durante cinco séculos esterilizou e tentou estabilizar, não conseguiu 100%, mas tentou esterilizar o pensamento crítico e o pensamento criativo. Pra deixar a aridez mental que eu falei é justamente as conseqüências. Quando você esteriliza o pensamento crítico, o pensamento criativo, só resta como opção imitar. Então vamos para a escola memorizar as respostas que já existem que não foram criadas por nós, que existem em outros idiomas, foram inventados por outros atores e chegam pra nós de outros lugares que nunca coincidem com o nosso idioma, com nossos atores e lugares”.

Roberto Germano, é professor da UFCG e diretor do INSA, Instituto Nacional do Semiárido Brasileiro, é um dos organizadores do evento e, ao dialogar com nossa equipe, fez um balanço do evento realizado em Campina Grande dizendo que e disse que o processo é logo a medida que a mudança deverá acontecer no meio social e nos governos para que um modelo de desenvolvimento possa ser trabalhado para o fortalecimento da região semiárida com ações que passam pelo modelo de educação, tecnológico e político dentre outros. “É uma estrada muito longa, mas dizem que para uma estrada longa ou para uma longa caminhada aconteça, é preciso dar um primeiro passo e eu creio que esse passo já foi dado, primeiro um organismo do Ministério da Ciência e Tecnologia essa temática que muito bem vem sendo desenvolvida pela RESAB, uma entidade da sociedade civil organizada pra fazer com que esse tema de fato caia dia a dia na discussão nacional e que a educação passe realmente a se preocupar com esses valores locais, esses saberes locais. Então temos convicção de que já avançamos bastante, precisamos avançar muito mais e através de ações desta natureza aqui através de órgãos como as rádios que você representa para levar a cada casa, a cada cidadão a importância que a gente tem diante de educar nossa criança desde o ensino fundamental até a universidade fortalecendo justamente os valores de nossa região e as potencialidades que nós temos no semiárido brasileiro”.

Fonte: Stúdio Rural / Programa Domingo Rural

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