Encontro paraibano discute manejo e exploração sustentável de florestas em assentamentos

Entidades não governamentais representações de órgãos governamentais e de assentados da reforma agrária participaram do segundo encontro estadual de manejo florestal que aconteceu na capital paraibana e discutiu temas relacionados ás formas de extração da madeira dos assentamentos rurais sem comprometer a sustentabilidade das florestas nativas de cada região.

Stúdio Rural acompanhou as atividades no evento que aconteceu na última sexta-feira(14/10) na sede do Interpa e conversou com lideranças de diversas entidades que falaram aos ouvintes das emissoras parceiras através do Programa Domingo Rural e Universo Rural.

Daniel Carvalho é consultor do MDA, Ministério do Desenvolvimento Agrário, participou do evento e disse ter sido exitoso pela representatividade participativa e disse que o governo federal está investindo muito neste modelo de manejo das florestas e recursos naturais que precisam de preservação sem, no entanto, impedir o desenvolvimento econômico do país e das microrregiões. “O mundo inteiro hoje está trás de energia, você vê que energia eólica está na pauta hoje da sociedade, tem o programa do etanol, enfim, é o mundo que está atrás de abastecer o seu complexo energético. A questão da lenha aqui e nos outros estados também é uma temática de grande expressão e os planos de manejo contribuem significativamente pra essa questão e esse diálogo, esse intercâmbio com outras comunidades, com o pessoal que trabalha com agroecologia é de fundamental importância porque denota como é que isso funciona, como é que a cadeia trabalha, os nichos mercadológicos que existem para o agricultor familiar está se apropriando dessa técnica, claro que existem os obstáculos da questão administrativa que pode ser melhor identificada ainda pra superar algum eventual obstáculo”, explica.

O superintendente do Incra-PB, Lenildo Dias Morais, ao dialogar com nossos ouvintes, disse que a entidade tem feito um debate interno para que o projeto de manejo florestal comunitário seja discutido e aceito pelo corpo técnico da casa além de compartilhar com associações e lideranças em assentamentos da reforma agrária. “Há ainda um debate no âmbito da instituição em que devemos primeiro fazer um processo de discussão que a gente consiga implementar um manejo que se consiga restaurar todas as essências florestais que foram utilizadas e que também passe por um processo de discussão com as associações que compõem os assentamentos, então hoje, dos 281 assentamentos nós estamos fazendo um debate em 20 assentamentos para que a gente possa está já a partir de 2012 utilizando todos os mecanismos técnicos para a utilização do manejo florestal sem perder de vista a capacidade tradicional que os agricultores já têm e esse debate deverá ser intensificado a partir de parcerias”, explica Dias Morais.

A Sudema foi representada pela analista ambiental Cicélia Emanuela Diniz que, ao falar com Domingo Rural, disse do papel da entidade e parcerias no novo modelo de exploração e admitiu que as parcerias, em sua maioria, passam por um déficit no quadro de pessoal a exemplo da Emater que informou nas discussões que só dispõe de dois engenheiros florestais para atuar em todo o estado. “Temos limitações até porque pela quantidade de projetos em que a gente dá assistência em todo o estado fica complicado pela quantidade de técnicos existentes hoje”.

Diante do déficit apresentado no quadro de pessoal especializado, o secretário do Desenvolvimento da Agropecuária e Pesca da Paraíba, Marenilson Batista, disse entender ser fundamental o trabalho que vem sendo desenvolvido para garantir a sustentabilidade da propriedade no assentamento como um todo pensando na geração de renda advinda da parte florestal e disse que o diagnóstico apresentado aponta para o fato de que é necessário a construção de quadros técnicos nas organizações do estado e dos parceiros. “Nós entendemos que a solução dos problemas do estado não passa só simplesmente pelo estado, o estado tem que ser esse indutor, tem que ser esse parceiro, em alguns momentos esse coordenador, em outros momentos executor, mas que possamos contar com os diferentes segmentos da sociedade, com o governo federal, com as ONGs, com o setor produtivo garantindo que juntos possamos construir esse desenvolvimento rural sustentável”.

O presidente do Interpa, Nivaldo Moreno de Magalhães, disse que o trabalho que vem sendo feito nos assentamentos tem tido papel de construir o presente e tentando recuperar práticas predatórias de um passado e citou, como exemplo, investimentos feitos via Banco da Terra que, segundo ele, se aproveita pouca coisa e garante que o Interpa está fazendo uma revisão nos atuais projetos de investimentos nos novos assentamentos. “Então nós só pagamos a uma associação hoje que realmente tenha capacidade, nós só pagamos assistência técnica que seja feita e seja prestada conta, então nesse trabalho estamos nos preocupando com isso e também nos preocupando com a reserva legal, nós estamos fazendo dois projetos agora em parceria com o Projeto Cooperar lá em Alagoa Nova com Esperança em que vamos pegar um assentamento que tenha uma reserva legal e tenha mata ciliar e vamos fazer toda arborização dele, inclusive fazendo um consórcio com a piscicultura para que se plante a sabiá, para que a gente plante a mata ciliar e que a abelha possa aproveitar a flor disso aí”.

Ivanildo Pereira Dantas é assessor técnico da FETAG-PB e, ao fazer uma avaliação do evento, disse ter sido positivo já que existe um processo organizado para trabalhar o manejo florestal na caatinga e disse ser necessário ampliar as discussões da temática e deixar mais claro a existência negativa do baixo quadro de pessoas especializadas e empresas contratadas para fazer o serviço. “Eu avalio enquanto movimento sindical assessor da FETAG um encontro desse muito positivo, agora num lado negativo é a pouca presença, principalmente, dos principais interessados que são os trabalhadores e trabalhadoras rurais, nós fomos convidados quase em cima da hora e não se houve uma articulação entre as pessoas do encontro com o movimento sindical, eu vou levando a mensagem para o movimento, pra nossa direção, para que no próximo encontro a gente possa está trazendo mais trabalhadores e trabalhadoras rurais para que esse pessoal que está ligado diretamente no campo e que precisam diretamente dessas ações venham ter o entendimento da importância do manejo florestal na caatinga”.

O coordenador da ONG SOS Sertão, Joaquim Araújo de Melo Neto, avaliou o evento, disse ter sido esclarecedor sobre os próximos rumos e atitudes a serem desenvolvidos e garante que a tendência é de se ampliar ações e projetos na busca de explorar as áreas com florestas sem, no entanto, acabar as matas e florestas e garante que a meta será estruturar as entidades parceiras para que possam acompanhar essas ações nos assentamentos rurais. “Eu acho que é um grande desafio para todos nós, principalmente para os governos, pra parte estadual e federal em organizar a questão da capacidade técnica das instituições, do fortalecimento institucional, é o aumento de concurso, aumento de profissionais no sentido de ampliar, nessa grandeza você viu que o número de assentamento no Estado da Paraíba de 2002 pra 2011 cresceu de 1000% na relação de Incra e Crédito Fundiário, então a demanda tem que acompanhar também a necessidade de se contratar mais pessoas pra que isso não vire uma bola de neve do tamanho do mundo e a gente não consiga organizar e conter todo esse processo de desagregação, de desmatamento, de fatores antrópicos que contribuem para aumentar a degradação ambiental nos nossos ecossistemas”, explica aquele assessor lembrando que mais da metade do consumo da matriz energética do Estado da Paraíba é advinda da madeira destinada ás cerâmicas e indústrias gerais que precisam dos produtos madeireiros.

Newton Duque Estrada Barcellos é chefe da Unidade Regional Nordeste do Serviço Florestal Brasileiro, órgão do Ministério do Meio Ambiente e, ao ser entrevistado por Stúdio Rural, disse que a tendência é continuidade das ações, renovação e ampliação de novos projetos e aproveitou para anunciar as novidades para serem trabalhadas junto aos assentamentos rurais na Paraíba. “Fico muito feliz, novamente a gente está junto e dessa vez num momento importante prá nós porque estamos encerrando uma fase com a SOS Sertão num contrato que a gente tem com eles, mas ficou muito claro aí e você ouviu nos depoimentos do pessoal do seminário que isso não pára aqui, o fato de ter terminado aqui uma parceria formal entre a SOS Sertão e o Serviço Florestal não significa que não tem mais ajuda aos agricultores, não tem mais assistência técnica, pelo contraio, a SOS Sertão já nos diz que matem o compromisso de continuar dando assistência técnica a esses agricultores e foi anunciado na segunda feira dessa semana o novo dinheiro para a caatinga”, explica a representação governamental, dizendo tratar-se de um fundo da conversão da divida, dinheiro que o governo brasileiro devia aos Estados Unidos e, por uma decisão do Congresso Americano, o dinheiro pode ser aplicado no Brasil em ações ambientais.

Fonte : Stúdio Rural / Programa Domingo Rural

Compartilhe se gostou

Deixe seu comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos marcados como (obrigatório) devem ser preenchidos.

Newsletter

Através da nossa newsletter você ficar informado, o informativo do estudo rural já conta com mais de 20 mil inscritos, faça parte você também.

Back to Top