Programa Domingo Rural ganha Prêmio BNB de Jornalismo evidenciando ações integradas na agricultura familiar

Barragens Subterrâneas e ações integradas mudam panorama e qualidade de vida de famílias no semi-árido foi tema ganhador do Prêmio BNB de Jornalismo 2007 apresentado pelo Programa Domingo Rural da Rádio Serrana de Araruna AM 590 kHz, Rádio Cultura de São José do Egito-PE AM 1.320 kHz e Rádio Independente de Serra Branca FM 107,7 MHZ.

Na edição vencedora, Domingo Rural evidenciou a importância das barragens subterrâneas enquanto obras estruturadoras que, de forma integradas, mudaram e estão mudando o panorama e a qualidade de vida de famílias de agricultores e agricultoras em diversas microrregiões do Semi-árido nordestino brasileiro, com ações integradas que envolvem tanques de pedras, curvas de níveis para fixar a água de chuva ao solo, uso de energia solar nos sistemas de irrigação, produção orgânica, agregação de valor aos alimentos produzidos, venda direta ao consumidor em feiras agroecológicas dentre outras ações. “Durante estes dez anos de comunicação rural, nós do Domingo Rural acompanhamos muitas experiências de agricultores experimentadores com ações sustentáveis em todo o semi-árido brasileiro e a barragem subterrânea tem estado sempre presente, mostrando eficiência na capacidade produtiva e na melhora da qualidade de vida das famílias camponesas”, argumenta o produtor e apresentador do Programa, jornalista, radialista e comunicador rural, Antônio Tavares da Silva Filho.

Para o agricultor Aloísio Mendonça de Arruda residente no Sítio Lajedo de Timbaúba, município de Soledade, Cariri paraibano, o uso da barragem subterrânea tem mudado em muito a qualidade de vida da família e contribuído para a cidadania já que a propriedade é visitada por comissões de todo o país e por agentes internacionais, conforme entrevista concedida ao Domingo Rural. Aluísio conta que com as ações integradas composta por cisternas, barragem subterrânea, conservação de culturas nativas e plantio de culturas adaptáveis a região, é possível ter alimentos para a família e para os animais em todos os meses do ano. “Tenho ração para os animais e tudo mais, planto feijão depois que passa a época do inverno, chega um final de ano eu tenho um feijão para comer maduro”, explica Aluísio, falando sobre o papel das organizações dos Agricultores, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e PATAC dentre outras.

Outra experiência visitada por nossa equipe de jornalismo rural foi a experiência do agricultor Inácio Tota Marinho, também residente no Sítio Lajedo do Timbaúba, em Soledade, que confirma a importância da organização dos agricultores, dos intercâmbios dos conhecimentos e a importância dos agricultores utilizarem as tecnologias adaptadas a nossa região. “A barragem subterrânea eu conheci através do Globo Rural, eu não tinha conhecimento técnico como que era a barragem subterrânea, não conhecia o sistema e uma época eu estava em São Paulo, assisti a reportagem e me despertou muito, daí fui conhecer uma barragem em Ouricuri-PE. Quando cheguei aqui encontrei Valdir que é técnico e acompanha nossos projetos style=mso-spacerun: yes>  e fazia parte do Sindicato representando o PATAC na região de Soledade, então nas reuniões ele passou a falar sobre as experiências com cisternas de placas já que não tínhamos conhecimento em nossa região e barragem subterrânea fazendo com que fizéssemos um intercâmbio”, justifica Tota informando que hoje a família tem produtos da agricultura em toda a época do ano.

Domingo Rural visitou a família do agricultor Francisco Belarmino, residente na Comunidade Chapéu, no município de Umarizau, Médio Oeste do Rio Grande do Norte, acompanhando famílias de agricultores da Paraíba que conheceram de perto as ações da família que utiliza Barragem Subterrânea, irrigação a partir da água acumulada no poço artesiano da Barragem alimentada por um sistema de energia solar dentre outras ações. “A família tem um sistema integrado de produção, buscando agregar valor aos alimentos produzidos a exemplo do sistema orgânico e de agroflorestas”, comunicou o jornalista, apresentando entrevista com o técnico agrícola da ONG Diaconia, Luiz Monteiro Neto, que, no Domingo Rural, falou sobre o que foi compartilhado com os agricultores, como se produz e o que mudou na vida da família de agricultores. ”Aqui nós mostramos o aproveitamento da Barragem subterrânea, uma coisa muito importante aqui dentro dessa área é que antes o que se cultivava aqui era apenas no período do inverno que era milho e feijão praticamente e hoje nós temos aqui duas colheitas ao ano que é no inverno e no verão. Então no inverno tem a cultura do feijão e do milho mas no verão tem a cultura dentro da barragem de batata, macaxeira, milho, feijão, talvez no verão se colha muito mais que no inverno porque o aproveitamento é bem maior do que no verão aqui dentro da barragem”, explica Monteiro Neto ao dialogar com os ouvintes do Domingo Rural em rede. Ele disse que o trabalho já envolve 14 comunidades nos municípios de Umarizau, Caraúbas e Lucrécia num trabalho de produção agroecológico num processo de venda direta ao consumidor, prática que melhorou a qualidade de vida das famílias que tiraram de cena a figura do atravessador. “O nosso trabalho é basicamente incentivar cada dia mais para que o agricultor deixe a prática de produção convencional e hoje já temos resultados muito fabulosos”, justifica o técnico, acrescentando que hoje as famílias levam toda a produção para as feiras agroecológicas e organiza a venda direta ao consumidor.

O agricultor paraibano Inácio Tota foi um dos participantes do intercâmbio de conhecimentos no Rio Grande do Norte e falou sobre o que foi visto naquela propriedade sustentável. “Avalio como um ótimo encontro, porque estamos levando muitas experiências, nós podemos multiplicar em nossas regiões, lá já temos um começo de trabalho style=mso-spacerun: yes>  e vendo o jeito que as outras entidades estão trabalhando só melhora o nosso trabalho”.

Em um dos simpósios de captação de água de chuva, realizado em Capina Grande, o técnico articulador da AS-PTA, José Camelo, falou sobre a experiência bem sucedida da família do agricultor Zé de Pedro e a da esposa Dona Maria do Carmo, na comunidade Sítio Bom Sucesso, município de Solânea, Curimataú paraibano, tendo a barragem subterrânea como um dos instrumentos estruturadores da propriedade e o desenvolvimento da economia e da cultura da família, prática que Camelo compartilhou com os ouvintes do Domingo Rural. “É possível, conforme seu Zé de Pedro e dona Maria do Carmo têm mostrado, aproveitar a pouca água que cai na região, como é que eles estão fazendo? Em relação a água para beber eles construíram uma cisterna de placas que hoje junta 16 mil litros de água e que está sendo suficiente pra família beber durante o ano. Eles também estão utilizando tanques de pedras e barreiros pra lavar roupa e tomar banho e aí fizeram vários barreiros na propriedade”, argumenta Camelo falando sobre diversas outras ações de recursos hídricos integradas na propriedade da família que já serve de referência para outras famílias de agricultores na Paraíba e estados da região semi-árida brasileira.

As pequenas obras são tidas por diversos setores como sendo de fundamental importância para o desenvolvimento social e econômico da região já que para pesquisadores, experimentadores e lideranças políticas e sociais a região apresenta índice de chuvas relativamente alto, porém mal distribuído e mal utilizado pela população do semi-árido brasileiro.

O pesquisador da Embrapa Algodão, Napoleão Beltrão de Esberard Macedo, é da opinião que o quadro mudará bastante se a sociedade se planejar para um melhor aproveitamento das águas que caem em todas as microrregiões dos estados nordestinos. “Chove em média, aqui no semi-árido nordestino, 500 a 600 milímetros de chuva, isso é muita água, então traduzindo style=mso-spacerun: yes>  isso na linguagem mais popular 500 milímetros de chuva são cinco mil metros de água por hectare”, explica Beltrão, lembrando que por não ser aproveitadas as águas correm para o mar já que quase não infiltram-se por ser selos rasos e pedregosos o que justifica a construção de reservas hídricas.

Ao ser entrevistada por nossa equipe Stúdio Rural, a representante da ONG CEPFS, em Teixeira-PB, Cláudia Sonda, falou sobre a experiência das famílias de agricultores e agricultoras daquela localidade já que com a construção de cisternas e estruturas hídricas as famílias passaram a ter mais saúde, a juventude que antes era obrigada a buscar água longe em barreiros e açudes passou a ter mais tempo para a educação, laser e cultura dentre outras vantagens que só a organização social pode oferecer. “Bom, segundo as próprias mulheres que passaram por esse trabalho de avaliação das suas vidas antes e depois das cisternas, todas elas comentam assim: as cisternas são uma bênção porque aliviaram o sofrimento, principalmente das mulheres e crianças na busca pela água. Então Veja, as cisternas possibilitou a água para cozinhar e para beber de melhor qualidade, ainda que precise ter manejos pra melhorar ainda mais essa água”, comemora a liderança, justificando que antes as mulheres acordavam meia noite e ou pela madrugada para ir até as cacimbas e açudes para buscar água, perdendo muito tempo e encontrando apenas água suja com fezes de animais, animais que tomavam banho nos açudes e elas não tinham outra opção e eram obrigadas a trazer água com essas características de poluição.

Fonte : Stúdio Rural / Programa Domingo Rural
Foto : Raiza Tavares

 

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